Essa história de quarentena me fazendo lembrar do tempo de criança onde brincávamos de contar histórias das assombrações e dos fantasmas do Recife. Era assim: juntávamos a turma na rua e depois das 22h cada um contava uma história.
Lembro-me, como se fosse hoje, a história da emparedada da Rua Nova. Eu sempre fui para cidade com painho. Sim, pra tu que não é de Recife, cidade é como chamamos o centro, aquele lugar onde tem um monte de lojas. Pegávamos o ônibus e descíamos “no pé da Ponte de Ferro” e andávamos até a Rua Nova para comprar roupas e sapatos.
Toda vez que passava lá, painho falava: “Filho, faz silêncio para escutar os gritos da jovem mocinha que foi emparedada pelo pai”. Ele continuava falando que uma menina, filha de comerciante, teve um caso com um boêmio da noite e deixou o pai muito arretado. Então ele chamou a filha, encostou a moça na parede e “fez outra parede na frente” com ela viva e tudo mais. Painho falava que naquela época o povo escutava os gritos da emparedada. Se você for lá, pela noite, ainda escuta uns gritos vindo da parede. Essa história tá bem escrita no livro “A emparedada da Rua Nova” de Carneiro Vilela que podes comprar no site da CEPE.
Esse negócio de assombração em Recife é muito sério. Tem um monte de gente que estuda, desenha e escreve sobre isso. Vê, vou dar um exemplo: Sabe Gilberto Freyre? Um dos principais escritores do Brasil e do Mundo? Ele escreveu um livro chamado “Assombrações do Recife Velho” que você pode comprar em várias livrarias.
No livro, lá pela página 78, ele conta a história de Luiza uma moça que sonhava em casar, porém, acabou sendo puxada pra dentro do Riacho da Prata, no Bairro de Dois irmãos, por uma assombração. Todos falam que era o fantasma de Branca Dias, uma senhora que jogou toda sua prataria no Riacho, por isso do nome “Riacho ou Açude da Prata” tá ligado, né!
Da uma olhada nos passos de Branca Dias ele conta um pouco da história de Branca Dias e de como ela foi perseguida
Se você passar por lá, em noite de lua cheia, poderá ver o açude brilhando como a prataria de Banca Dias e bem no meio do açude, poderás ver dois vultos. Dizem que é Branca Dias e a jovem Luíza. Uma coisa é certa, eu não entro lá nem com a gota serena.
Aqui em Recife tem um projeto massa se sensibilização turística. Eles realizam passeios guiados e gratuitos pela cidade. Existem passeios de bicicleta, à pé, de catamarã e de ônibus. Dá uma olhada no site do Projeto Olha Recife.
Uma vez eu fiz o passeio de ônibus e o tema era “assombrações do Recife”. O guia falou de um monte de assombrações, porém, a história da “Fantasma debutante” foi a mais aterrorizante de todas: antigamente o Clube internacional do Recife na Rua da Aurora sempre rolava as “festas de debutantes” ou “festa de 15 anos”. Durante um baile em 1920, uma linda moça chamada de Ana Lúcia, acabou tropeçando no inicio da escada e foi embolando até chegar no térreo com o pescoço quebrado.
Hoje o prédio abriga o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães – O MAMAM que conta com lindas exposições, porém, quem passa na frente do museu pela noite escuta o barulho de uma jovem garota caindo pela escada.
O Recife é um lugar assim: recheado de lendas, assombrações, causos e contos que são passados graças ao poder da oralidade dos grandes contadores de história que aqui passaram. Então já podes ir arrumando a mala e lembre-se de colocar alguns itens básicos para realizar uma verdadeira “caça aos malassombros” com uma vela, lanterna e um câmera para usar quando estiver andando pelas ruas, ruelas, vias e becos da cidade mais assombrada em linha reta do mundo.
Serginho Xavier